segunda-feira, 17 de maio de 2010

Um caminho, duas distâncias

Arranquei os sapatos, soltei minha capa, enterrei-os ao lado de um pé de acerola. Lembra? Esse aí bem na sua janela. Calcei seus chinelos, quase arrebentaram, e fui. Assim mesmo, desse jeito. Vestindo uma camisa sua, daquelas rasgadas e cortadas, e fui.

Era saudade. Eu queria entrar na sua roupa, sentir o vento como você, sorrir ao céu como você. Mesmo sem querer, ou sem saber. Só queria ser você. Tudo isso pra tentar entender um pouco como você amarra o lápis aos cabelos. Era a chave do entendimento. Depois me ensinaram o não enteder e não aprendi.

Hoje estamos assim, eu e você sentados em um sofá amarelo de dois lugares. De um lado fotos, do outro o mundo. E nós atrás um do outro. Trouxe aquilo que você falou? Tenho um presente pra você. Adivinha: o que não se pode tocar e não se pode ver? Você que pediu faz uns dias.

Que você tem? Me conta! É coisa boa? Não né! Aconteceu alguma coisa? É comigo? E aquela promessa? Tudo ia se acertar! Por que agora? Eu vim até você, segui os livros. Calcei "chinelas", tomei "champanhas". E, por fim?

Descansei... Achei que tivesse chegado. Lá! Do outro lado.

Na verdade não. Era só a travessia! O pior é que me risquei dos mapas. E agora não sei mais o caminho de casa.